sábado, 17 de setembro de 2011

Alcântara Antigo — Recordações


Alcântara é um Distrito do Município de São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro. Em 1954 era servido por bondes e ônibus, já velhos na época, e em pequeno número. Havia também os lotações, que seriam a Vans de hoje, com características parecidas.

O centro do bairro era apenas uma praça de chão de terra batida, formato circular em razão do trajeto que os bondes faziam e circundada por umas poucas edificações, em geral, quitandas, bares e pequenos armazéns. O que não se encontrava nas quitandas? Uva, melão, pêssego, morango, kiwi, acerola, maçã, pera, entre tantos outros produtos que hoje em dia são fartos nos supermercados. Isso porque todos os produtos eram de cultivo local ou próximo. Por isso, as hortaliças eram fartas. Qualquer pequeno quintal as cultivava.

Quanto aos armazéns, eram pequenos e escuros. Os balcões de madeira grossa separavam o comprador do vendedor. Geralmente no centro do imóvel havia um tablado com pouco mais de 20 centímetros de altura, onde ficavam todos os cereais, expostos em sacos abertos, alguns com pequenas tabuletas com os preços escritos à mão. Mais ao fundo se podia ver os galões de 200 litros com uma bomba manual sobre eles, contendo querosene, o produto mais vendido no armazém.

Todos os embutidos ficavam pendurados ao longo do balcão. Pendurados também ficavam os coadores de pano para café, ou o funil de alumínio de vários tamanhos (usado para colocar o querosene nos lampiões ou lamparinas).

Para que o tablado? Higiene? Não. O chão de cimento passava umidade para os sacos, danificando o produto. Como eram feitos de madeira, evitavam o contato dos sacos de cereais com o piso de cimento.

Energia mesmo só havia no centro do bairro. Na periferia só se tinha lampião ou lamparina. Movidos a querosene. E era sob a luz mortiça de uma lamparina que as crianças estudavam, invadidas pelo cheiro do querosene. Ao se deslocarem pela casa, levavam consigo a pequena luz e suas mãos  estavam sempre cheirando a querosene. Mas a falta da luz elétrica propiciava a visão de um céu inigualável. Uma lua gigantesca e miríades de estrelas de todos os tamanhos. Difícil ver hoje um céu noturno como aquele.

Tempos felizes e ingênuos.

Clarival Vilaça

Clarival Vilaça é escritor. Nasceu em Santo Antonio de Pádua, norte do Estado do Rio, e mora em Alcântara desde 1954. Esse texto foi gentilmente cedido por ele para publicação em nosso blog.

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